O museu de Salta que expõe múmias de crianças incas de +500 anos na Argentina
Uma das coisas mais impressionantes que vi durante esses anos viajando pela América do Sul, foi o corpo intacto das múmias de crianças incas encontradas nos Andes, expostas no Museu de Arqueologia de Alta Montanha de Salta.
O Museu de Arqueologia de Alta Montanha (MAAM) em Salta, no Norte da Argentina, nos coloca de frente pra um dos maiores mistérios de todos: a vida e morte desses antigos habitantes dos Andes.
Conhecido por sua coleção de múmias Incas, o museu de Salta expõe cuidadosamente informações sobre o contexto cultural e histórico dos corpos, ao mesmo tempo em que respeita a sensibilidade do assunto e oferece uma perspectiva única sobre o passado da região andina.
Veja então aqui no UMASULAMERICANA como conhecer o Museu de Alta Montanha de Salta e ver com teus próprios olhos as múmias, ou Niños de Llullaillaco, que são uma das mais fascinantes descobertas arqueológicas do mundo!
A fascinante descoberta arqueológica das múmias do Vulcão Llullaillaco nos Andes da Argentina
Uma equipe multidisciplinar, liderada pelo renomado arqueólogo e alpinista argentino Johan Reinhard, realizou uma expedição meticulosa e desafiadora em plenos 6.730 metros acima do nível do mar, resultando na descoberta das múmias no vulcão Llullaillaco em 1999. A expedição envolveu arqueólogos, antropólogos, alpinistas e outros especialistas.
O vulcão Llullaillaco está localizado na Cordilheira dos Andes, na fronteira entre Chile e Argentina, na região do Deserto do Atacama.
É uma região remota e de difícil acesso, com condições climáticas extremamente adversas e terreno acidentado. Por isso, a expedição enfrentou desafios significativos, incluindo altitude elevada, temperaturas extremamente baixas e falta de oxigênio.
A equipe empregou tecnologia de ponta, como equipamentos de escalada, drones e equipamentos de pesquisa científica pra ajudar não apenas na busca, mas também na análise do local. Além disso, contou com o conhecimento e a assistência de guias locais da região andina, que conheciam bem a região.
Após uma busca cuidadosa, a equipe finalmente descobriu uma série de enterramentos no topo do vulcão, a uma altitude de aproximadamente 6.700 metros. Entre esses enterramentos estavam então as três crianças Incas, conhecidas como “Niños de Llullaillaco”, que se tornariam o destaque da descoberta.
Veja outras múmias incas encontradas nos Andes
Niños de Llullaillaco: as crianças incas encontradas mumificadas no vulcão
As condições extremas do ambiente, naturalmente, ajudaram a mumificar os corpos das crianças ao longo dos séculos, resultando assim em seu estado notavelmente bem preservado quando encontradas.
Encontraram três múmias infantis: uma garota de 13 anos chamada de Donzela, sua meia-irmã, a Garota do Raio, e o Menino de Llullaillaco (sem grau de parentesco). Provavelmente, elas foram vítimas do ritual inca de sacrifício humano.
Junto com as múmias, encontraram artefatos e oferendas, cuidadosamente enterrados com as crianças. Assim os arqueólogos puderam ter uma visão única da cultura e das práticas religiosas dos Incas.
Uma análise forense realizada em 2013, dois anos antes da minha primeira visita ao MAM, examinou o material genético preservado no cabelo da Donzela de Llullaillaco. Pesquisadores descobriram que, no último ano de sua vida, ela consumiu quantidades elevadas de folhas de coca, bem como álcool.
Você pode ver os pedaços de folhas de coca em seus lábios. E ela tem um caroço [de coca] na boca.
Reinhard para National Geographic
Aqui no UMASULAMERICANA há vários materiais nos quais comento sobre a cultura milenar da coca nos Andes. Assim, é comum que grupos indígenas consumam coca. A planta, que é natural da região, é considerada sagrada. Mas cientificamente, provou-se que a coca alivia o mal da altitude.
Da mesma forma, nós que fazemos trilhas no Altiplano Andino também costumamos enfiar pedaços de folha de coca nas bochechas e mastigá-las.
Enfim, a descoberta das múmias no vulcão Llullaillaco foi um marco significativo na história da arqueologia andina. Ela forneceu insights valiosos sobre a vida e a religião dos antigos habitantes dos Andes.
A expedição e a subsequente pesquisa das múmias continuam a ser estudadas e analisadas por arqueólogos e cientistas de todo o mundo, contribuindo para nosso entendimento da civilização Inca e da história da América do Sul.
Entenda o mal de altitude, seus sintomas e os cuidados ao viajar pra regiões altas.
A Donzela (La Doncela)
La Donzela, a múmia mais antiga, foi sacrificada aos treze anos (algumas fontes afirmam quinze anos) e faleceu durante o sono. Ela estava vestida com uma túnica e um adorno de plumas na cabeça, exibia cabelos trançados e sofria de uma infecção pulmonar.
Especula-se que foi uma aclla, uma jovem selecionada desde os dez anos pra se tornar esposa de membros da elite inca ou sacerdotisa, e algumas tinham como destino os rituais de sacrifício.
Garota do Raio (La Niña del Rayo)
A outra menina, conhecida como A Garota Do Raio, faleceu com cerca de seis anos, e teve seu rosto danificado por um raio pós-morte. Seu crânio mostrava sinais de alongamento intencional, indicando seu status nobreza na sociedade.
O Menino de Llullaillaco (El Niño de Llullaillaco)
Enfim, O Menino faleceu por volta dos sete anos, e sua morte parece ter sido traumática devido às manchas de sangue e vômito em suas vestimentas. As análises sugerem que ele faleceu por asfixia, apresentando algumas costelas e a pélvis deslocadas. Sua vestimenta indica sua pertença à nobreza inca.
Museu de Arqueologia de Alta Montaña em Salta
Salta é a capital da província de mesmo nome, localizada na região Noroeste da Argentina. Assim, a cidade é um misto de cultura andina com cultura colonial, como se nota claramente no centro histórico.
É ali que estão as crianças de Llullaillaco, expostas no Museu de Arqueologia de Alta Montanha (MAAM). Um museu fascinante dedicado à preservação e exibição dos achados arqueológicos da região de alta montanha, principalmente as três múmias e os artefatos encontrados em sítios arqueológicos da região Andina.
O MAAM é famoso por abrigar as múmias das crianças que foram sacrificadas há mais de 500 anos em rituais cerimoniais incas.
Ademais das múmias, o museu exibe uma variedade de artefatos, incluindo cerâmicas, tecidos, ferramentas e objetos cotidianos, todos datados de diferentes períodos da história pré-colombiana. Esses itens nos ajudam a compreender mais profundamente a vida e as tradições dos antigos habitantes das montanhas.
Importante saber que, infelizmente não dá para ver as três múmias de uma vez no museu, já que periodicamente apenas um fica exposto. Isso é por causa das condições em que as múmias devem ser conservadas. Já visitei o MAAM 3 vezes e pude ver 2 diferentes.
Onde fica o Museu de Arqueologia de Alta Montanha de Salta
O MAAM está localizado no centro histórico de Salta, uma cidade encantadora e próxima a destinos incríveis, o que a torna uma cidade ainda mais atraente pra viajar pela região. Veja aqui o que fazer na região de Salta.
O prédio que abriga o museu em Salta também é interessante em si mesmo, com uma arquitetura moderna que contrasta com as construções coloniais ao redor.
Endereço: Rua Mitre 77 (4400), pertinho da Praça 9 de Julio e da Catedral Basílica de Salta
Quanto: AR$4 mil para estrangeiros (cerca de R$25).
Quando: Qualquer época do ano, de terça a domingo.
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