Como funciona um mochilão na prática – Os bastidores que ninguém te conta
Eu sei que este texto não vai receber muitas visitas, afinal não tem muito como trabalhar SEO e outras técnicas que o Google gosta quando vamos falar de algo tão abstrato e complexo quanto a vida humana, porque sim, os bastidores de um mochilão, como essa viagem funciona na prática, também se trata da nossa existência.
É normal que no calor da emoção a gente compartilhe apenas as coisas boas e as dicas práticas, como transportes, moedas e roteiros, por exemplo. Mas eu lembrei de tirar um tempo para escrever este artigo mostrando um pouco sobre como funciona um mochilão na prática.
Ele foi escrito em 2015, reeditado em 2017 e agora, em 2022, vou reeditá-lo novamente, porque a cada novo mochilão que faço aprendo algo novo e mudo alguma perspectiva sobre viajar e levar a vida como nômade.
Bom, se você quer essas dicas para planejar tua viagem, recomendo que clique neste link e acesse todos os artigos sobre MOCHILÃO. Há conselhos para tudo o que você imaginar, mas não se esqueça que essa leitura aqui é bastante importante também.
O que são os bastidores de um mochilão?
Os bastidores do mochilão são aquelas coisas simples do dia a dia, mas que nem todo mundo compartilha. Imagina, numa viagem de mais de 30 dias, o quanto de coisa a gente tem para administrar, tanto na prática, quanto emocionalmente!
Já dei duas voltas na América do Sul, fiz vários mochilões que duraram 2 ou 3 meses e agora estou me planejando para uma viagem pela América Central, por isso sei bem como funciona um mochilão na prática.
Enfim, na prática, vamos precisar lidar com a rotina, questões emocionais e administrativas durante um mochilão.
Vamos as coisas práticas:
- Como lavar roupa
- Cuidando da higiene e cuidados pessoas
- Como armazenar fotos
- Lidando com diferentes tomadas
- Como lidar com o dinheiro
- Lidando com comidas e temperos
- Organização com os pertences
- Mudanças
Agora as coisas mais abstratas e ainda mais complexas que acontecem durante uma viagem de mochilão:
- Exaustão e frustração
- Paixões e desilusões amorosas
- Ressignificação da viagem
- Autoconhecimento e desconstruções
- Saudade, solidão e solitude
Como funciona um mochilão na prática – a verdade que ninguém te conta
Você vai ter que lavar roupas durante um mochilão (quase sempre na mão)
Apesar de viajar com poucas peças, a cada 7 ou 10 dias eu preciso parar tudo para lavar roupas. Sim, minha cara viajante, as roupas são uma tarefa rotineira que não tem como fugir, porque se você não lavar constantemente, vai ficar ou pelada ou suja.
Em locais de muito calor, como nos Lençóis Maranhenses por exemplo, eu precisava lavar com um pouco mais de frequência. Já em destinos mais frios, como Cusco, eu conseguia repetir mais vezes a mesma roupa antes de lavá-la.
Verdade seja dita, ninguém quer deixar de fazer uma trilha linda para lavar roupas, mas isso é o que acontece durante o mochilão na prática.
Alguns lugares nem mesmo possuem lavanderia, neste caso eu tinha duas opções: ou eu levava em uma lavanderia e investia dinheiro nisso (em alguns destinos isso costuma ser caro), ou eu lavava debaixo do chuveiro.
Se for enviar a uma lavanderia, saiba que em alguns lugares vão cobrar por quilo e em outros por lavagem (te entregam um recipiente e o que couber ali, entra na máquina).
Se for lavar no chuveiro, se liga, porque muitos hostels proíbem esta prática.
Ah, e 80% das vezes eu tinha que lavar na mão, porque nem todos os lugares possuem máquina de lavar disponível.
E só aprendi a lavar roupa na mão depois de 6 anos de vida mochileira. Eu jurava que estava fazendo certo. Se você não tem certeza se sabe ou se admite não saber, no Instagram @umasulamericana tem um destaque chamado DICAS. Ali tem tudo o que você precisa.
Dica: se você vai voluntariar pela Worldpackers, trocando tuas habilidades por hospedagem, se lembre de olhar entre os outros benefícios se há lavanderia. Esse é um quesito bastante importante para mim.
Calcinhas eu sempre lavo no chuveiro, mas do jeito certo. Tem dicas nesse destaque que mencionei antes.
Alguns hostels disponibilizam varal, outros não. Dica: levo comigo um elástico de bike para pendurar quando não há varal.
Você vai precisar encontrar tempo para coisas práticas de higiene e cuidado pessoal
A maioria dos homens cortam o cabelo a cada 15 ou 20 dias e isso pode ser tenso na viagem. Alguns dos meus amigos viajam com maquininhas próprias, mas alguns preferem encontrar alguém que tenha para emprestar ou mesmo buscam um lugar adequado. Em espanhol se chamam peluquerias.
Eu aprendi a cortar meu cabelo sozinha, apesar de ser apenas um único corte. Jogo todo ele para frente e amarro na testa. Enrolo o cabelo e corto. Fica V repicado. A cada 3 ou 4 meses faço isso, dependendo dos lugares por onde passei. Saiba que viver na praia ou na secura do altiplano andino estraga o cabelo igualmente.
A cada 15 dias tiro um tempo para cuidar do meu cabelo. Faço umectação noturna com óleo de coco, que uso para tudo durante o mochilão, como mostrei neste artigo sobre o óleo.
Na prática, durante um mochilão, eu ainda preciso lidar com os pelos do meu rosto, porque eu não gosto de deixa-los. Então, semanalmente, preciso tirar um tempo para limpar as sobrancelhas e remover os pelos do buço e queixo. Para isso, sempre tenho comigo pinça e creme depilatório.
Minhas unhas parei de fazer em 2014, antes de sair para meu primeiro mochilão, mas algumas amigas minhas tiram um tempo na viagem para lixar, tirar cutículas e até para pintar as unhas. No meu caso só corto, porque acho mais prático.
A realidade de quem tem viagem como estilo de vida é muito parecida com a de quem leva uma vida fixa. Nós temos que igualmente lidar com essas rotinas de higiene e cuidado pessoal. E numa viagem muitas vezes isso pode ser um desafio, porque temos muito estímulos, há muita coisa acontecendo. Por isso, o esforço em manter essa rotina acaba sendo maior.
Como lidar com o milhão de fotos que a gente tira na viagem? Como armazenar?
Quando voltei da Laguna Humantay, no Peru, haviam mais de 700 fotos DE UM ÚNICO DIA. Imagina o que eu acumulei durante meu mochilão de 15 meses pela América do Sul.
O melhor a ser feito é colocar essas imagens na nuvem, porque durante a viagem algo pode acontecer, como por exemplo, quando eu perdi o cartão SD com a maioria das fotos de El Chaltén.
Comprei mais espaço no Google Drive e armazeno tudo lá subdividido em pastas. Pasta país; pasta cidade e pasta passeio/lugar.
Hoje eu pago mais caro, porque já tenho fotos demais e meu pacote precisa ser o de 2 teras, que custa R$34, mas com R$7 você já consegue comprar 100 GB.
Geralmente eu coloco para subir nas pastas antes de deitar para dormir, porque dependendo do dia eu tinha centenas de fotos para carregar. Isso levava horas dependendo da qualidade da internet.
Hoje as fotos estão lá, seguras e não preciso mais pagar (a não ser que eu queira mais espaço, não fico pagando mensalmente).
Posso baixar as fotos e vídeos no meu celular para postar no instagram sem nenhum problema. E quando vou usar para publicar aqui no blog ou no canal do Youtube, faço download no meu computador e depois excluo.
Viajar por vários países é lidar com padrões diferentes de tomada
Sem meu adaptador universal de tomada eu não sou ninguém.
Ao mochilar pela América Latina, voce vai ver que cada país possui um padrão de tomada. Isso está explicado em cada texto aqui no UMASULAMERICANA, como o ‘O que saber antes de viajar pelo Chile’ ou o ‘Guia de viagem pelo Peru’.
Nos grandes centros é muito fácil de encontrar este modelo como o meu. Caso você viva em uma região mais rural ou não encontre perto de você, é bastante fácil de encontrar na internet. Custa entre 10 e 20 reais.
Caso prefira, o que considero um vacilo, me desculpe, poderá comprar adaptadores nos países em questão. O problema disso é ter vários adaptadores e gastar tempo e dinheiro saindo para comprar.
Esse adaptador serve para vários tipos de entrada, tanto macho, quanto fêmea. Além disso, transforma, podendo ser usado em 120 ou 210!
Um conselho de amiga: tenha uma extensão de 1 metro com várias entradas ou um T para colocar tudo para carregar de uma vez.
Como eu fazia com o dinheiro
A cada ano criam novas maneiras de levar dinheiro para viajar e, por isso, mudo constantemente nessa questão.
Na prática, durante um mochilão por vários países não existe uma única maneira de levar seu dinheiro, porque cada país apresenta um cenário diferente.
No Instagram @umasulamericana há um destaque chamado ‘MOEDAS’ e ali voce vai poder ver muito mais sobre isso. E aqui no UMASULAMERICANA há um artigo com dicas e informações sobre que moeda levar para mochilar pela América do Sul.
Num resumo aqui para que você não se frustre, existem hoje alguns bancos internacionais multimoedas e que cobram taxas bem menores que um cartão de crédito ou débito comum ou um cartão pré-pago.
Abri minha conta digital na Wise. Vou escrever um artigo sobre isso e em breve compartilho aqui com você.
Há também empresas de remessas, como a Western Union. O dinheiro não fica guardado, nem existe um cartão. Você envia o dinheiro para o país onde quer sacar e na moeda local, como Colômbia ou Bolívia, por exemplo.
Ao andar com dinheiro em espécie, uso uma doleira e também já tive uma bolsinha para prender no sutiã. Ela foi muito útil e segura por uns meses, até que a perdi no Atacama com os únicos 800 reais que eu tinha na vida.
E a verdade é que é sempre um caos pensar nisso. É cansativo fazer contas, saber quando e como sacar dinheiro em determinado país. E quando a gente começa a se acostumar com a moeda local, é hora de partir.
Na prática, durante o mochilão você vai acabar carregando peso de comida
A não ser que você esteja muito bem de grana para deixar para trás, viajar com meio pacote de arroz, um pacote de orégano e outros itens de alimentação é bem normal.
Deixe aí na tua mochila um espaço para isso e saiba que este é um peso que vamos ter que carregar para economizar.
É que durante um mochilão, a gente come bem pouco em restaurantes, porque cozinhar é sempre mais barato. Então compramos arroz, lentilhas, chás, temperos e outros itens. Quando nos mudamos de cidade, acabamos levando tudo com a gente. Caso contrário, terá que comprar tudo de novo.
Sem contar o tempo que você precisa dedicar para ir ao supermercado e cozinhar, precisa lidar com esse transporte.
Já carreguei comigo um frango assado inteiro quando viaja pela Carretera Austral, porque eu não tinha muito acesso a cozinhas por ali – a maioria das hospedagens não ofereciam – e comer fora estava financeiramente fora de cogitação.
Já viajei com ovos, leite em pó, manteiga, frutas, grãos e até ketchup. É minha amiga, fazer um mochilão na prática é diferente dos stories que a gente posta no Instagram. Se bem que no meu caso eu acabo compartilhando essas coisas também.
Como organizar os pertences durante um mochilão
Aceite uma realidade que eu vou te contar: voce vai perder muitas coisas. E vai, inevitavelmente, achar muitas outras.
A maioria dos quartos possuem armários ou gavetões para alocar as mochilas. Os que tinham, eu trancava apenas a parte da minha mochila com itens mais caros e passava o cadeado no armário/gaveta.
Alguns hostels não tinham. Nesse caso eu trancava com cadeado os compartimentos da minha mochila e a prendia com cadeado de bike na cama.
Comprei antes de viajar porque haviam me dado essa dica no grupo dos Mochileiros no Facebook. E foi super útil, porque peguei muitos hostels sem armário/gaveta. Além disso usei esse cadeado pra prender a minha mochila na do Rodrigo em viagens de bus. Se alguém quisesse levar uma mochila, teria que levar as duas e o peso seria um impeditivo!
Algumas dessas coisas eu perguntei em fóruns e grupos do Facebook, mas muita coisa eu fui pensando na hora e me virando. Essa é uma das delícias de um mochilão a longo prazo.
Espero ter ajudado com esse post. Se você tiver qualquer dúvida, comente aí!
4 Comentários
[…] Comentei sobre ele neste post aqui. […]
Ótimas dicas! tinha muita curiosidade sobre a mochila na hora de dormir e de lavar as roupas também!
As lavanderia eram muito caras?
E uma opção pra guardar as fotos é o Google Fotos, ele ocupa espaço que você tem na sua conta Google, mas para fotos de até 16 MP ele não ocupa nenhum espaço, assim você pode economizar um pouco nisso.
Oi, Dennis! Boa a dica do Google! Valeu
Então, as lavanderias não eram muito caras, não. Em cada cidade era um valor diferente, mas nada muito absurdo.
O legal é se juntar com alguém pra lavar tudo junto quando for valor fechado por lavagem e não por quantidade de peça ou peso.
[…] Coisas que ninguém te conta sobre um mochilão sabático. […]