Descubra o Novo Turismo: 9 propostas pra viajar diferente
Em 2014 eu debatia sobre como o turismo era o negócio do século, onde as pessoas iriam investir mais energia, tempo e dinheiro. Isso aconteceu, de fato, mas a coisa cresceu de forma abusiva. Com a pandemia o mercado de viagem congelou e trouxe à luz um novo turismo, nos obrigando a mudanças que nos levam a viajar consciente.
O ato de viajar se tornou realmente perigoso. Nos tornamos portadores e distribuidores de um vírus e o levamos pelos 4 cantos da Terra em questão de meses. Além disso, lotamos pequenas cidades, gerando mais lixo do que elas podem suportar. As atrações precisaram aumentar pra atrair os viajantes, então desmatamos, exploramos animais e abusamos de pessoas pra fazer o turismo acontecer.
Tudo isso nos levou a diversas reflexões, a desenvolver novas maneiras de viajar e a construção de um novo turismo que você vai descobrir agora!
O que é o novo turismo
O novo turismo apresenta alternativas pra viajar de maneira mais responsável, ou seja, com muito mais consciência.
Acima de tudo, esse turismo consciente oferece experiências mais intensas e reais e motivadas por uma necessidade de impactar o mundo, ao invés de apenas consumir dele, não apenas os recursos naturais, mas também humanos.
Como o turismo consciente se desenvolve? Como viajar de uma nova maneira?
Sou mochileira-nômade há anos. Trabalho com turismo desde 2010. Aprendi a me conscientizar como viajante na estrada, acompanhando o comportamento inadequado de turistas por onde passei. Portanto, esse é um tema que me faz refletir há anos, mas ainda mais desde que entramos em quarentena por conta da pandemia. Cheguei a conclusões que quero compartilhar com você agora!
Em conclusão, quero te convidar a viajar consciente, que é a proposta principal do novo turismo e reconheço isso em 9 maneiras de colocarmos isso em prática:
- Turismo colaborativo
- Viagem com Propósito
- Turismo responsável
- Ecoturismo
- Turismo Alternativo
- Turismo de Base Comunitária
- Viagem minimalista
- Staycation
- Slow Travel
Novo turismo em 9 maneiras de viajar consciente
Identifiquei nove maneiras de fazer o turismo acontecer de forma respeitosa e cuidadosa, garantindo assim a viagem consciente.
O modelo de turismo que conhecemos não vai mais se sustentar, em contrapartida, o novo turismo oferece uma real melhora no nosso impacto no mundo.
Vamos lá?
1 – Turismo Colaborativo
O turismo colaborativo não é novidade, mas agora ele vai ganhar mais força. Um, porque a crise financeira pede viagens mais baratas e, segundo, porque elas oferecem um propósito interessante quando o tema é consumo colaborativo.
O que é turismo colaborativo?
Em conclusão, é o ato de viajar compartilhando, colaborando, ajudando e se conectando com pessoas e projetos.
O viajante que busca o consumo e as experiências colaborativas têm alternativas interessantes, como é o caso da carona, que de forma genuína na estrada ou via aplicativo com custos compartilhados, conta com a colaboração pra viajar.
Veja 12 dicas pra pegar carona em segurança
O mesmo para o conhecido Couchsurfing, que conecta viajantes a pessoas locais, que oferecem um lugar pra que o visitante possa dormir por algumas noites sem receber nada por isso. A ideia vai além da economia com hospedagem, mas sim a conexão entre as duas pessoas.
Veja 7 dicas pra viajar sem dinheiro.
E também através dos voluntariados, quando o viajante troca habilidades e colaboração por acomodação e outros benefícios, como alimentação, aulas de idiomas, empréstimos de bike, lavanderia e muito mais dependendo do anfitrião.
Existem algumas plataformas que oferecem esse tipo de troca, mas uso a Worldpackers, que é brasileira e possui mais de 8 mil anfitriões em todo o mundo. Dentre os anfitriões estão hostels, fazendas, ONGs, centros holísticos, escolas e muito mais.
Inclusive eu comentei há uma ano aqui no blog sobre 7 tipos de voluntariados pra fazer na pandemia mantendo o isolamento social.
Aqui você vai saber tudo sobre voluntariado em viagem.
2 – Viagem com propósito
Uma das ações do novo turismo é o viajar com propósito, ou seja, viver a viagem com objetivos de conexão, imersão e autoconhecimento.
A viagem passa a ser uma ferramenta de transformação, não apenas um entretenimento no qual recorremos nas férias pra conhecer lugares bonitos.
Como viajar com propósito?
Você pode planejar uma viagem com propósito pensando na conexão com o coletivo e com a cultura local ou vivendo a solitude, buscando o autoconhecimento.
Em outras palavras, imersão cultural ao viajar significa que o turista abandona o papel de puro consumidor da cultural alheia e se coloca como parte dela, vivenciando a rotina e trazendo pra si verdades e comportamentos locais e conhecimentos adquiridos durante a viagem.
A ideia é vivenciar a rotina, a cultura e a realidade local e viver uma imersão antes de partir.
O legal é quando você vive a imersão cultural e colabora deixando algo também e os voluntariados são ótima maneira de fazer isso.
Além disso, a viagem com propósito convida o viajante a uma jornada de autoconhecimento, como a que eu vivi durante meu segundo mochilão pela América do Sul. Dessa forma, enquanto se vive essa imersão, você se questiona sobre suas crenças, sobre tuas qualidades, encara tuas falhas, propõe mudanças a si mesmo e cria uma viagem interna.
3 – Turismo responsável
O turismo responsável é aquele que tem consciência dos abusos humanos, ambientais e animais que existem no turismo e busca vivenciar a viagem com menos impacto negativo.
Antes de mais nada, como turista responsável você faz tuas escolhas baseadas nesses impactos. Ou seja, opta por empresas que têm ações sustentáveis, que não abusam de trabalho infantil e que não exploram animais.
Uma matéria da Luiza, do blog Janelas Abertas, sobre turismo com animais, mostra os absurdos que fazemos com a vida silvestre pra atrair viajantes. Golfinhos acrobáticos na Disney. Elefantes dóceis na Tailândia. Felinos fotogênicos na Argentina. Botos cor-de-rosa na Amazônia. Enfim, exploração animal em nome do turismo!
Comunidades quilombolas e indígenas armando shows pra branco aplaudir. Cholas bolivianas no ringue de luta livre armada pra fazer gringo rir. Descaracterização da cultural local.
Áreas desmatadas pra criação de hotéis, resorts e atrações turísticas. Produção de resíduos sem coleta seletiva. Trilhas abertas impactando o meio ambiente.
Enfim, posso fazer um texto exclusivo sobre o tema, porque o turismo irresponsável é maioria no mercado.
E é justamente esse tipo de viagem que o turista responsável evita fazer, escolhendo destinos, hotéis e agências de passeios que se preocupam com o meio ambiente, com a vida local e com a vida silvestre.
4 – Ecoturismo
Definitivamente, ecoturismo NÃO significa turismo na natureza. Esse é um termo que significa muito mais que isso. Ecoturismo identifica o turismo responsável.
Em conclusão, o ecoturismo promove o impacto positivo pra comunidades locais, pra o meio ambiente e pra vida silvestre.
Esse é o turismo que valoriza os recursos naturais e promove a conscientização tanto da população nativa, quanto dos visitantes. Assim, o ecoturismo busca fortalecer a economia de forma responsável, com preservação e desenvolvimento da vida local.
O investimento não é feito pra desenvolver o turismo, mas sim pra preservar o local e, assim, garantir uma experiência real ao turista.
Ecoturismo é, definitivamente, vivenciar as viagens com consciência e visa a educação ambiental. Se alguém está em meio à natureza, mas não está se conscientizando à respeito dela, ele não está praticando ecoturismo.
Em síntese, Ecoturismo ou turismo ecológico é a atividade turística que utiliza sustentavelmente o patrimônio natural e cultural de um destino, buscando assim a formação de uma consciência ambientalista. Essa é a definição do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR).
5 – Turismo Alternativo
O turismo alternativo é aquele que vai na contramão do turismo de massa, ou seja, que prefere lugares e/ou atrações menos visadas pelos viajantes.
Assim, o viajante alternativo elege lugares com pouca infraestrutura, mas que mantém as características locais, sejam humanas ou ambientais.
Esses destinos chamados alternativos possuem grande potencial turístico, mas não é de interesse das grandes massas. Esses lugares, afinal, não recebem atenção dos órgãos que promovem o turismo e acabam não entrando na rota turística de suas regiões.
Vale mencionar que destinos de massa podem ser alternativos, como é o caso da região de Cusco, que possui as Ruínas de Choquequirao como alternativa à Machu Picchu. Aqui em Ubatuba mesmo existem 102 praias, mas a massa insiste em ocupar 30% delas durante a alta temporada.
Ou seja, o turista que busca alternativas pode procurar por destinos menos explorados ou pode encontrar atrações alternativas em destinos de massa.
Os benefícios do turismo alternativo são imensos pra o desenvolvimento da economia local, como consumo de produtos e alimentos artesanais e de pequenos produtores, contratação de guias locais, uso de barcos e outros meios de transporte oferecidos por nativos.
No blog da Cris Marques, do Raízes do Mundo, você vai ver um artigo completo sobre turismo alternativo. Vale muito a leitura!
6 – Turismo de Base Comunitária
O Turismo de Base Comunitária é a autogestão do turismo da população nativa, ou seja, é a própria comunidade que gerencia os processos da vivência do turista.
Não há grandes empresas e redes hoteleiras por traz do turismo local, mas sim pessoas locais que oferecem transporte, alimentação, hospedagem e passeios.
A população local é a protagonista e faz sozinha a gestão dos recursos. A ideia é que a economia gire entre os membros da comunidade, sem alimentar as grandes empresas de turismo, como no cenário comum de viagem.
Por serem os gestores e também moradores, os locais preservam o ambiente no âmbito ecológico e social. Ao mesmo tempo que oferecem uma experiência ao visitante, os locais valorizam a própria história e cultura local.
O ICMBio disponibilizou um manual explicando o que é a Turismo de Base Comunitária.
O turista que vai vivenciar uma experiência de turismo de base comunitária precisa ter em mente que qualidade, conforto e acesso não necessariamente vai existir da maneira que no turismo comum.
7 – Viagem Minimalista
O que vêm à cabeça quando dizemos ‘viagem minimalista’? Posso apostar que você pensou em viajar com bagagem leve e com poucos intens. Acontece que fazer viagens minimalistas é ir além disso. Mas também é isso! Já me explico.
O viajante minimalista é aquele que visa a qualidade e não a quantidade de suas experiências, pertences e consumos na viagem.
Esse é um movimento que leva a um estilo de vida onde menos é mais! O minimalismo tem como objetivo evitar os exageros, mas também viver com mais consciência e qualidade de vida.
Pra se viver uma viagem minimalista é necessário entender o que o minimalismo significa. Assim, o minimalismo valoriza a qualidade de tempo, liberdade, economia, meio ambiente, experiências e relações. O minimalismo entende que quantidade pode ser um problema, inclusive.
E como viajar de forma minimalista?
Obviamente, viajar com a bagagem leve é considerado minimalismo, já que você valoriza a qualidade da tua viagem, gerando menos preocupações pela quantidade de pertences e sem a necessidade de carregar peso.
Veja aqui como montar uma bagagem leve e funcional pesando menos de 10kg.
Mas viajar minimalista é também sobre viajar de modo econômico, mesmo quando você possui dinheiro, recorrendo ao turismo colaborativo em busca de mais imersão e desconstrução.
É também viajar sem pressa, usando o Turismo Slow que vamos debater neste mesmo texto. Também não programar um roteiro contendo 10 cidades em 15 dias. É não programar tantos passeios, sem deixar espaço pra contemplação. Menos é mais!
Dessa forma, a viagem minimalista é a viagem simples, tranquila e contemplativa. É a viagem sem luxos, sem exageros e sem pressa.
Esse vídeo acima, fiz pra Worldpackers com dicas pra uma viagem minimalista. Assista se o tema te interessa!
8 – Staycation
Staycation é a vivência turística dentro da própria cidade, ou seja, fazer turismo dentro da cidade onde vivemos.
Esse é um conceito que se popularizou durante a pandemia, já que os viajantes se depararam com fronteiras fechadas, voos cancelados e impossibilidade de conhecer atrações em destinos turísticos.
A ideia é que o viajante possa explorar a própria cidade com olhar de turista, ou seja, descobrindo novos lugares, contemplando belezas antes despercebidas e, inclusive, vivenciando atividades na região.
Ao vivenciar o Staycation, que significa férias em casa (stay = ficar, permanecer + férias = vacation), o viajante pode buscar por day use, pode passar um final de semana num hotel do outro lado da cidade, pode realizar um voluntariado em algum projeto local ou pode apenas criar roteiros pra conhecer pontos da região onde mora.
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Dentre os benefícios do Staycation estão:
- a economia, já que o viajante não precisa se preocupar com deslocamento e até hospedagem;
- a segurança em momentos de crise, como a pandemia por coronavírus;
- a valorização dos patrimônios cultural e natural da própria região;
- o estímulo da economia local.
9 – Slow Travel
Mais uma proposta que trago para fazermos juntos um novo turismo é a Slow Travel (turismo lento), que convida os turistas a viajarem sem pressa, como já comentei no tópico sobre viagem minimalista.
A Slow Travel é fruto da reflexão sobre como viajamos de maneira frenética e apressada, ou seja, que tenta encaixar o máximo de atrações possíveis no período da viagem.
Além disso, as viagens lentas visam um aprofundamento na cultura local, já que o viajante passa mais tempo em cada lugar por onde passa. Também propõem um turismo responsável, causando menos impacto por ter menos locomoção, menos descarte, menos consumo.
No Slow Tourism ou Slow Travel o viajante sai de casa com um roteiro livre, com dias não planejados, se dando espaço pra que o inesperado aconteça, pra que o universo crie a rotina da viagem, ou seja, além de tudo, o turismo lento oferece espaço pro autoconhecimento.
Você tá pronto pro novo turismo?
Parece que tá tudo interligado, né? Todas as nove propostas que eu trouxe nesse texto se encaixam entre si. Pois é, não tem como fugir do novo turismo! Seja por questões de economia, de sustentabilidade, de necessidade de autoconhecimento ou de mudança de hábitos.
Mas você tá pronto pra viver o novo turismo? Pra saber se sim, reflita sobre tuas buscas pessoais durante a rotina comum. Se você vive com mais presença, procura ter uma rotina mais saudável, se consome pensando no planeta, enfim, se busca ter qualidade e não quantidade. Se sim, você tá pronto pra ser o novo turista.
Caso não, nunca é tarde pra começar a repensar a maneira como você tá levando a vida, portanto aproveite este artigo e reflita sobre si, sobre teu impacto no mundo, sobre as tuas motivações pra viajar e sobre tua relação com a cultura alheia e o meio ambiente.
Novo turismo na prática: 10 atitudes a serem evitadas numa viagem consciente
- Não tratar o nativo como diferente, mas ver em si o exótico, quando é o caso.
- Não reclamar da falta de infraestrutura turística, mas se perguntar se o volume de turismo não tá passando dos limites.
- Nunca deixar lixo em trilhas, praias, rios, cachoeiras ou qualquer outro atrativo turístico. Pelo contrário, recolha lixos quando os virem.
- Nunca fotografar pessoas sem a devida permissão (como eu comentei nesse artigo com 10 mandamentos do viajante pelo Peru).
- Não ouvir som alto, descaracterizando a cultura local, poluindo sonoramente o ambiente e incomodando os nativos.
- Jamais entrar em rios, cachoeiras e lagos com produtos no corpo e cabelo (como protetor solar, por exemplo). Nem tome banho com uso de produtos, como sabonete, shampoo e condicionador.
- Nunca acampar em áreas preservadas.
- Não fazer fogueiras em áreas com possibilidade de incêndio, como essa chinesa que foi expulsa de um parque na Patagônia.
- Jamais sair das áreas demarcadas por trilhas.
- Não importunar, nem tocar em animais silvestres, tampouco retirar plantas nativas.
Me conta nos comentários o que você achou dessas propostas? Vou adorar saber! E se tiver alguma outra dica pro novo turismo, deixe aí nos comentários.