Filosofia da Libertação – movimento filosófico da América Latina
A Filosofia da Libertação é um movimento filosófico que surgiu na América Latina na década de 1960, em um contexto marcado por profundas transformações políticas e sociais na região.
Assim, os filósofos da libertação propuseram uma nova abordagem que fosse capaz de dar conta das realidades concretas e históricas latinoamericanas.
Nesse texto do UMASULAMERICANA vou compartilhar com você os principais temas e conceitos da Filosofia da Libertação que tenho aprendido. Além disso, sua origem e influências, contribuições pra o pensamento crítico e a luta por justiça social na América Latina e em outras regiões do mundo.
O que é a Filosofia da Libertação
A filosofia da libertação é uma corrente filosófica que surgiu como uma resposta à opressão colonial e neocolonial que a América Latina sofre a séculos .(Ai que canseira, meudeus)! Seu objetivo então é analisar e superar as condições de injustiça social, econômica e política que afetam as comunidades mais vulneráveis da região.
Este movimento é influenciado por várias correntes filosóficas:
- marxismo
- existencialismo
- fenomenologia
- teologia da libertação
- pensamento crítico
Como resultado, a filosofia latinoamericana se concentra na análise das estruturas de poder que perpetuam a opressão e na busca por uma libertação integral que inclua a emancipação cultural, política e econômica. Conhecer essa filosofia foi um abraço!
Através da crítica e do questionamento sobre a objetividade e a neutralidade das teorias filosóficas tradicionais, afirma que são construídas a partir de uma perspectiva eurocêntrica, ou seja, não leva em consideração as experiências e as realidades das comunidades marginalizadas.
Assim, a filosofia da libertação busca promover uma reflexão filosófica a partir da realidade eperspectiva latinoamericana, buscando gerar uma consciência crítica e uma ação transformadora.
Em resumo, a filosofia da libertação é um movimento filosófico que busca entender e combater as estruturas de opressão que afetam as comunidades latinoamericanas. Como é que a gente não estuda isso nas escolas?
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Influências do movimento filosófico da libertação
“Ah mas então o movimento é comunista?”. Eu sei que algumas pessoas vão se questionar sobre isso, mas a verdade é que a filosofia da libertação é independente do marxismo, como você vai ver.
Ao contrário, o movimento filosófico da libertação se baseia em várias correntes filosóficas.
Claro, uma das principais influências da filosofia da libertação é o marxismo, que enfatiza a luta de classes e a análise das estruturas de poder.
No entanto, os filósofos da libertação criticam o marxismo. Isso porque, além da ênfase excessiva na luta de classes, falta atenção às questões culturais e simbólicas que são fundamentais pra entender a opressão.
Outra influência importante na filosofia da libertação é a teologia da libertação, que surgiu na América Latina nos anos 60.
A teologia da libertação enfatiza a importância da prática religiosa como forma de transformação social e combate à opressão. Ela argumenta que a religião deve estar a serviço dos pobres e oprimidos, e não dos poderosos.
Do mesmo modo, uma referência é o pensamento crítico. Ele se baseia na ideia de que a verdade é construída socialmente e que o conhecimento deve estar a serviço da libertação e da transformação.
Essa abordagem enfatiza a importância da crítica e da reflexão sobre as estruturas sociais e políticas da sociedade.
Quem são os pensadores da filosofia da libertação
Existiu e existe muita gente pode ser considerada representante da filosofia da libertação, cada um com suas próprias contribuições e perspectivas. Além dessa galera que vou citar abaixo, há vários outros nomes.
Enrique Dussel (1934)
Primeiramente, o Filósofo e teólogo argentino considerado o pai da filosofia da libertação. Ele propôs uma ética da libertação que enfatiza a importância da alteridade, do diálogo e da solidariedade como formas de combater a opressão.
Dussel é considerado um dos principais pensadores da América Latina e uma voz importante na luta pela justiça social e pela transformação das estruturas políticas e econômicas opressivas.
Paulo Freire (1921 – 1997)
Pedagogo e filósofo brasileiro que propôs uma abordagem educacional libertadora, que enfatiza a importância da conscientização e da participação ativa dos estudantes no processo de aprendizagem.
Paulo Freire, que era nordestino, argumentava então que a educação é uma forma de transformação social e que o conhecimento deve estar a serviço da libertação.
Aníbal Quijano (1928-2018)
Foi um sociólogo e filósofo peruano que desenvolveu a teoria da colonialidade do poder. Ou seja, ele argumenta que as estruturas de poder colonial continuam a afetar as relações sociais, políticas e econômicas na América Latina até hoje.
Aibal Quijano é conhecido por suas contribuições à teoria crítica latino-americana e à filosofia da libertação. Ele desenvolveu uma análise crítica das relações entre colonialismo, racismo e capitalismo, assim buscando compreender como esses sistemas de opressão se entrelaçam e se perpetuam na América Latina.
Rodolfo Kusch (1922 – 1979)
Filósofo argentino que propôs uma abordagem filosófica baseada na cultura e nas tradições indígenas da América Latina.
Kusch argumentava que a filosofia não pode ser construída a partir de uma perspectiva eurocêntrica e que é necessário levar em consideração as tradições e a cosmovisão dos povos indígenas.
Leopoldo Zea (1912 – 2004)
Filósofo mexicano que propôs uma abordagem histórica e crítica da filosofia latino-americana, argumentando que é necessário levar em consideração o contexto histórico e social em que ela foi produzida.
Leopolso Zea foi um dos maiores expoentes do sentimento de latinoamericanidade no mundo. Ele buscou incansavelmente a conscientização da América Latina e o reconhecimento da região no concerto global.
Maria Lugones (1944 – 2020)
Filósofa argentina que desenvolveu uma teoria feminista da colonialidade, argumentando que a opressão de gênero está entrelaçada com as estruturas coloniais de poder.
Lugones enfatiza a importância de entender e combater a interseção de diferentes formas de opressão, ou seja, o racismo, o sexismo, o colonialismo e o imperialismo, que estão interconectadas e se reforçam mutuamente. A luta contra a opressão deve ser uma luta interseccional e solidária, segundo sua teoria.
Franz Hinkelammert (1931)
Filósofo alemão radicado na América Latina que propõe uma abordagem crítica da economia política, argumentando que a lógica do mercado é responsável pela exploração econômica e pela opressão política.
Para Hinkelammert, a filosofia da libertação deve então construir uma sociedade mais justa e solidária, na qual os direitos humanos sejam respeitados e as diferenças culturais e étnicas sejam valorizadas.
Arturo Escobar (1952)
Antropólogo colombiano que propôs uma abordagem pós-desenvolvimentista, argumentando que o desenvolvimento econômico e tecnológico está enraizado em uma lógica de dominação e destruição ambiental.
Para Escobar, a filosofia da libertação deve valorizar a diversidade cultural. Além disso, reconhecer a importância do conhecimento e das práticas tradicionais como formas de resistência e de construção de alternativas ao modelo hegemônico de desenvolvimento. Sua abordagem questiona a ideia de progresso linear e defende a importância de pensar em soluções adaptadas aos contextos locais, respeitando assim as diversidades ecológicas, culturais e políticas.
Gloria Anzaldúa (1942 – 2004)
Escritora e ativista chicana (estadunidense de raízes mexicana) que desenvolveu uma teoria do conhecimento mestiço, que enfatiza a importância da hibridação cultural e da pluralidade de perspectivas.
Do mesmo modo, esse movimento é caracterizado pela diversidade de perspectivas e pela ênfase na participação ativa das comunidades marginalizadas no processo de construção do conhecimento e da transformação social. Ou seja, há muita gente desconhecida que teve papel fundamental na criação desta corrente filosófica e social.
Eduardo Galeano (1940-2015)
Considerado parte da corrente filosófica da libertação, foi um escritor, jornalista e pensador uruguaio que, por meio de suas obras, buscou refletir sobre a realidade latino-americana e promover a conscientização política e social. Defendeu a importância da solidariedade entre os povos da América Latina
Assim, Galeano teve um papel importante na denúncia das desigualdades e injustiças sociais da América Latina, especialmente por meio de suas obras literárias, que incluem crônicas, ensaios e narrativas ficcionais.
Sua obra mais conhecida, ‘As Veias Abertas da América Latina’ (1971), é uma crítica ao colonialismo e ao imperialismo na região. Nesta obra, Galeano denuncia então a exploração dos recursos naturais da região e a opressão dos povos indígenas e afrodescendentes, e propõe uma leitura crítica da história da América Latina a partir de uma perspectiva emancipatória.
Ailton Krenak (1953)
É um líder indígena, escritor e pensador brasileiro que é frequentemente associado à filosofia da libertação. Ele é um importante defensor dos direitos indígenas e da proteção do meio ambiente, e suas ideias e ações estão enraizadas em uma visão holística e interconectada do mundo.
Uma das vozes do conceito de futuro ancestral, Krenak critica a noção de “futuro” como algo que só pode ser alcançado através do desenvolvimento tecnológico e econômico incessante. Segundo o pensador, essa visão ignora os limites finitos do planeta e as diversas formas de vida que dependem dele.
Krenak propõe uma concepção de futuro que valorize as sabedorias e práticas ancestrais, que foram desenvolvidas ao longo de milênios de convivência humana com a natureza.
Ramón Grosfoguel (1956)
Enfim, o sociólogo e teórico crítico porto-riquenho que se concentra em questões de colonialismo, racismo e globalização.
Ele argumenta que a modernidade global é baseada em um projeto de colonialidade e enfatiza a importância de entender e desmantelar essa estrutura, promovendo a diversidade epistêmica e reconhecendo outras formas de conhecimento e vida.
Grosfoguel também defende uma perspectiva interseccional pra entender as diferentes formas de opressão e subordinação. Seu conceito de “matriz colonial de poder” se refere às múltiplas dimensões da colonialidade que moldam a sociedade global contemporânea.
Alguns livros pra estudar a filosofia da libertação
Depois que conheci o movimento da libertação me senti totalmente abraçada. Não estou sozinha nessa e isso me faz me sentir mais forte pra seguir a corrente como mulher latino-americana.
Por isso procurei alguns livros onde posso me informar mais e melhor sobre o tema e quero compartilhar com você.
“Filosofia da Libertação” de Enrique Dussel – obra fundamental da filosofia da libertação, na qual o filósofo desenvolve sua teoria crítica da modernidade e propõe uma ética da libertação.
“As Veias Abertas da América Latina” de Eduardo Galeano – livro crítico da história da América Latina, examinando as razões por trás da pobreza e subdesenvolvimento da região. Através de uma linguagem poética, Galeano denuncia a exploração do continente por países europeus e pelos EUA, que levaram à devastação ambiental e aprofundaram a desigualdade social e econômica.
“Pedagogia do Oprimido” de Paulo Freire – obra clássica da pedagogia crítica, conhecida ao redor do mundo, na qual o autor propõe uma educação que contribua pra a libertação dos oprimidos.
“Teologia da Libertação” de Gustavo Gutiérrez – obra que apresenta a teologia da libertação, corrente teológica que busca compreender a fé cristã a partir da perspectiva dos pobres e oprimidos. Este está difícil de encontrar.
“Ideias para adiar o fim do mundo” de Ailton Krenak – obra que propõe uma reflexão sobre a relação humana com a natureza e a necessidade de mudanças urgentes pra garantir a sobrevivência do planeta.
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Como exercer a filosofia da libertação
Depois de entender a filosofia da libertação decidi seguir estudando, mas sou uma pessoa mais prática. Assim que refleti sobre como combater as formas de opressão e injustiça que afeta a vida das pessoas na minha região, a América Latina.
Osho disse em seu ‘Livro do Ego’:
O conhecimento é limitado a sabedoria é ilimitada. O conhecimento é uma coisa externa; a sabedoria é interna. O conhecimento é sobre coisas; a sabedoria é sobre a vida. O conhecimento é uma ferramenta; a sabedoria é um modo de vida.”
Ou seja, é ideal sair do âmbito dos estudos um pouco e experienciar. Então, pra exercer a filosofia da libertação, é necessário adotar uma postura crítica em relação às questões mostradas no texto. É necessário questionando os valores e as instituições que perpetuam a opressão e a exploração.
Algumas práticas que sinto podem então ajudar a exercer a filosofia da libertação:
- Participar de movimentos sociais e organizações que lutam por direitos e igualdade social, econômica e política.
- Estudar a história, a cultura e a política da América Latina, buscando compreender as raízes das desigualdades e opressões que afetam a região.
- Refletir criticamente sobre os valores, as instituições e as relações sociais que mantêm a desigualdade e a opressão, questionando e propondo alternativas mais justas e igualitárias.
- Praticar a solidariedade e a empatia, buscando compreender as experiências e perspectivas dos outros e contribuindo pra a construção de relações mais igualitárias e justas.
- Estudar e dialogar com outras pessoas que possuem posicionamentos compreendidos como filosofia da libertação, buscando ampliar o conhecimento e a compreensão da realidade social e política. Além disso, pra criar uma corrente cada vez maior de apoio.
Enfim, a filosofia da libertação é uma ferramenta importante pra quem vive no Sul global. Façamos uso dela!
Meu sonho é que no futuro possamos estudar esse movimento latinoamericano já nas escolas e que exista um plano de educação decolonial e libertador pra que as futuras gerações já saibam o que fazer.
O que você achou da corrente filosófica? Me conta aí nos comentários.