Um choque cultural em Oruro, na Bolívia
São Paulo, capital. A maior cidade e a que recebe mais investimento no Brasil. É ali que eu moro.
Uma cidade que recebe influências de grandes cidades e potencias mundiais. Que se espelha em cidades modelos no mundo. Enfim, uma cidade imensa e em busca de evolução o tempo todo.
Imagina o baque que foi chegar em Oruro, uma cidade não turística na Bolívia.
Meu primeiro contato com nosso vizinho, a Bolívia, foi através do passeio do Salar de Uyuni. Muitas belezas e serviço prestado com qualidade. Tinha pizza, hamburguer e massa italiana.
De lá segui de trem, o Wara Wara, para Oruro. Ao desembarcar o choque cultural veio com tudo. Oruro não é feito para turista, como Uyuni. Oruro é diferente:
Quando, ao buscar por uma hospedagem, descobri a maioria não oferecia duchas.
Quando fui comer e vi que os alimentos são feitos quase todos na rua e a maioria eu nunca comi antes. Tudo cheirava forte e qualquer comida era tipicamente temperada.
Quando, ao comprar itens para o café da manhã, descobri que vender/comprar alimentos vencidos é algo natural.
Quando percebi que as pessoas que tinham carro mandavam nas ruas e buzinavam ao mínimo sinal de que o pedestre iria atravessar, mesmo que desse tempo, mesmo que estivesse longe.
Quando vi na TV, em um dos programas, a humildade que aquele povo vive. O patrocinador dava aos convidados um frango assado e Bs10 (cerca de R$6).
Quando assisti os clipes musicais e vi que tinham a qualidade dos vídeos do Raul Seixas, há mais de 20 anos atrás.
Quando vi nas lojas, à venda, celulares pequenos, com teclas alfanuméricas, que não vendem em São Paulo fazem pelos menos 8, 10 anos.
Eu estava preparada para uma Bolívia como a que vi depois em La Paz, mais tarde, mas ninguém me preparou para Oruro, onde uma garotinha abaixou no meio da rua, entre os carros e fez seu xixi ali. No meio da rua mesmo! Não na calçada.
Onde as mulheres trabalham com seus filhos amarrados (literalmente) às costas. Da senhora que vende comida de rua à jovem mãe que vende passagem de ônibus aos berros em frente ao terminal.
Onde as crianças têm bochechas rachadas e machucadas pelo sol, porque afinal um protetor solar deve ser uma fortuna para os seus pais comprarem.
Esse choque me tirou da minha bolha. Como poderia existir um mundo tão próximo e tão diferente do meu?
E me fez pensar que, enquanto em São Paulos as pessoas buscam status, trocam de carro quase todo ano, competem qual roupa é a mais cara, quem tem o filho mais cheio de atividades extracurriculares…, ali em Oruro as pessoas trabalham para comer, se vestir e que, mesmo que pareça loucura, não pensam em mudar quem são.
3 Comentários
Conhecer lugares assim mexem muito com a gente, né? Sabe onde eu tive essa experiência? No Egito. Passei 15 dias viajando dentro do país e me sentia nauseada diversas vezes por dia ao me deparar com hábitos comuns deles, como a falta de respeito com o pedestre, a falta de higiene (eles tinham dentes literalmente podres e fumavam muito), davam ossos sujos de sangue para os animais na rua que ali mesmo comiam, ficando todos sujos, muuuuito lixo nas ruas e muitas outras coisas que são muito diferentes da nossa cultura paulista. Sabe o que me indignou? Fiz algumas viagens de ônibus e as pessoas guardavam seus lixos para jogar na rua quando descesse do ônibus. Então era a fila: descia 1, jogava pra trás uma lata, descia o segundo, jogava papéis e garrafas literalmente para trás e assim sucessivamente. Me senti muito desconfortável. É uma falta de respeito com eles mesmo, sabe? Nunca mais volto, mas me fez crescer como ser humano e me fez enxergar a vida de um outro jeito. Estou escrevendo um blog sobre essa viagem (foram 6 meses no total entre Europa e África, ainda não lancei mas está quase), colocarei essas experiências por lá tbm. Parabéns pelo seu blog!
Nossa! Que chocante! É impressionante mesmo como somos diferentes. Depois de viajar assim a gente percebe o nível de higiene que temos (e ainda achamos pouco).
[…] ele é pago. São Bs.2, mas que todos eles se negam a pagar. Em Oruro eles são bem pobres. Leia aqui o choque cultural que tivemos lá – mas eu voltaria, não sei […]