Reserva Pacaya Samiria: vivência imersiva na Amazônia peruana
A Amazônia peruana é mais que um destino! É uma imersão em um ecossistema que desafia a noção de tempo e redefine a relação que temos com o mundo natural. Minha experiência foi um verdadeiro mergulho na vastidão da Reserva Nacional Pacaya Samiria, onde cada detalhe, do “silêncio” absoluto à grandiosidade das árvores e aos encontros com a fauna, me revelava uma Amazônia viva e pulsante, tão complexa quanto fascinante.
Pacaya Samiria é a segunda maior área protegida do Peru, que felizmente é pouco conhecida pelo turismo de massa. É um paraíso reservado pra amantes da natureza, que buscam experiências imersivas e contato com uma biodiversidade que se expressa em mais de mil espécies de animais e quase mil espécies de plantas silvestres da Amazônia.
Quem deseja experienciar essa floresta tropical e alagável, pode fazer o que se chama de turismo vivencial a partir de 3 dias, podendo chegar a 8 dias de imersão. Certamente, uma das memórias mais marcantes que se pode ter de uma viagem pelo Peru.
Neste artigo do UMASULAMERICANA vou te contar tudo o que você precisa saber pra viver essa experiência mágica no Peru, deixando também um breve relato da minha experiência com a agência local Wonder Amazon, que me convidou pra mostrar como é a reserva pra você. Vem ver!
Reserva Nacional Pacaya Samiria
A Reserva Nacional Pacaya Samiria é uma das maiores áreas protegidas do Peru e da América do Sul, localizada na região amazônica entre os rios Maranhão e Ucayali, próximos de onde esses rios se unem para formar o Amazonas, na região de Loreto, no nordeste do Peru.
São mais de 20 mil quilômetros quadrados de área protegida, conhecida como a “Selva dos Espelhos”, por causa do reflexo perfeito das árvores e do céu nas águas escuras dos rios e lagos.
Fundada em 1972, Pacaya Samiria tem como objetivo preservar o ecossistema amazônico, incluindo sua rica biodiversidade. A reserva abriga uma variedade impressionante de fauna e flora, com centenas de espécies de animais e plantas.
Entre os animais emblemáticos da região estão o boto-cor-de-rosa, a ariranha (ou lobo-do-rio), o peixe-boi da Amazônia, além de inúmeras espécies de aves, répteis e primatas, como caimãs e bugios.
Além de sua importância ecológica, a reserva possui uma relevância cultural significativa, pois é o lar de comunidades indígenas que vivem em harmonia com o meio ambiente e mantêm práticas sustentáveis de pesca, agricultura e extração de recursos.
O turismo de aventura e o ecoturismo também são incentivados na região, promovendo assim atividades como trilhas, observação de animais e expedições noturnas pra conhecer a vida selvagem.
A Reserva Nacional Pacaya Samiria não é só uma área de conservação, mas também um exemplo de como a biodiversidade amazônica e as culturas locais podem coexistir e prosperar. Assim, se tornando um destino único pra quem busca se conectar com a natureza e a vida selvagem na Amazônia.
Como chegar à Pacaya Samiria
O acesso ao setor Tibilo da reserva Pacaya Samiria se dá por Lagunas, que é acessível a partir de várias cidades, mas todas exigem um trajeto que inclui viagem fluvial. Vou detalhar como chegar a Lagunas partindo de Lima, Iquitos, Tarapoto e Pucallpa.
Lima é a capital do Peru e, como está distante da Amazônia, a primeira etapa é voar pra cidades mais próximas da reserva, como Iquitos ou Tarapoto.
Vou incluir o voo desde Lima, mas não necessariamente tua viagem precisa seguir este passo, como você vai ver mais adiante, é possível incluir outros destinos até chegar em Iquitos e Tarapoto.
Chegando via Iquitos:
- Voo: Pegue um voo de Lima pra Iquitos (aproximadamente 1h45min).
- De Iquitos a Nauta: Da cidade de Iquitos, pegue um coletico ou táxi até Nauta (cerca de 2 horas por estrada asfaltada).
- De Nauta à Lagunas: Em Nauta, você pega um barco (lancha rápida ou barco lento) para chegar à Lagunas.
Opção via Tarapoto:
- Voo: Pegue um voo de Lima pra Tarapoto (aproximadamente 1h20min).
- De Tarapoto a Yurimaguas: De Tarapoto, pegue um táxi ou coletivo até Yurimaguas (cerca de 2-3 horas).
- De Yurimaguas a Lagunas: Em Yurimaguas, você pegará um barco em direção a Lagunas (aproximadamente 3h30 de barco rápido pelo rio Maranhão, que sai dia sim, dia não).
Chegando por Pucallpa:
- Voo: Primeiramente, pegue um voo de Lima pra Pucallpa (aproximadamente 1h30min).
- De Pucallpa a Lagunas (via barco lento): Após chegar a Pucallpa, você pode optar por um barco lento que faz o trajeto até Lagunas pelo rio Ucayali. Essa viagem pode levar entre 12 e 20 horas, dependendo das condições do rio e das paradas.
- De Pucallpa a Yurimaguas (via lancha rápida): Alternativamente, há lanchas rápidas que realizam o percurso em aproximadamente 6 a 8 horas, proporcionando uma viagem mais ágil e confortável.
- De Yurimaguas a Lagunas: Em Yurimaguas, você pode embarcar em um barco rápido que segue em direção a Lagunas. A viagem dura cerca de 3 horas e 30 minutos pelo rio Huallaga, com três saídas diárias (às 4h, às 14h e às 16h).
De Lagunas à Pacaya Samiria: A Wonder Amazon vai te encontrar em Lagunas e te hospedar no lindo albergue da agência, que fica na entrada da reserva (caso chegue no dia anterior).
Dicas Importantes:
- Barcos: O tempo de viagem de barco pode variar muito, dependendo do tipo de embarcação (barcos rápidos ou lentos) e das condições do rio. Tenha disponibilidade pra imprevistos.
- Guias: É obrigatório ter guia, pois a reserva é remota e densa e o percurso é feito em canoa no meio da selva Amazônica.
Esses são os trajetos mais comuns partindo das principais cidades em direção à Reserva Pacaya Samiria.
Como colocar a Lagunas no roteiro de viagem pelo Peru
Distante de Cusco e Machu Picchu, que são os destinos número um do Peru, a Reserva Pacaya Samiria é uma experiência mais exclusiva e vivencial na Amazônia peruana, assim que combinar os três na mesma viagem não é muito fácil – apesar de não ser impossível.
O que recomendo, é um roteiro pelo Norte do Peru, que pode incluir outros destinos amazônicos, como Tarapoto, Chachapoyas e Iquitos, e do litoral norte, como Huanchaco e Chiclayo. Já na região andina, Huaraz pode ser uma opção pra combinar – apesar de ser outra proposta e pedir roupas totalmente diferentes na bagagem.
Tua viagem pode começar em Lima, indo direto pra Tarapoto e, dali, seguir pra Yurimaguas (onde fica a Wonder Amazon), atravessando de barco rápido pra Lagunas, onde começa a vivência.
Outra opção bastante interessante, é fazer uma longa e imersiva viagem pela Amazônia, começando por Manaus, no Estado do Amazonas, no Brasil, cruzando de barco lento até Tabatinga, que dura entre 6 e 7 dias, chegando assim na fronteira com o Peru por Santa Rosa (e com a Colômbia). De Santa Rosa, você pode pegar outro barco lento, de 3 dias, ou uma lancha rápida de uma noite até Iquitos, de onde se toma outra lancha rápida até Lagunas.
Enfim, existem muitas opções e posso te ajudar a planejar o roteiro ideal pra você, pensando nos dias que tem disponível e no que você tá pretendendo viver. Basta preencher o formulário de consultoria e entro em contato pra gente marcar uma videochamada.
Duração da vivência na Pacaya Samiria
Os tours na Reserva Nacional Pacaya Samiria saindo de Lagunas costumam durar entre 3 a 7 dias, dependendo do pacote e da experiência que você deseja.
Quantos mais dias dura a vivência, mais imersão você vai experimentar em sua viagem pela reserva, porque à medida que adentramos mais pelo rio, mais vida selvagem podemos ver.
Meu tour durou 6 dias 5 noites e, pela minha experiência, recomendo pelo menos 4 noites.
Veja no site da Wonder Amazon os detalhes de cada pacote de passeio
Quando visitar a Reserva Nacional Pacaya Samiria
O clima na reserva é tipicamente quente e úmido, com temperaturas variando entre 24 °C a 34 °C durante o dia e podendo cair para cerca de 19 °C à noite. A umidade relativa do ar na Amazônia é alta, geralmente acima de 80%, contribuindo pra a sensação de calor. Porém, durante a noite, costuma esfriar.
A reserva apresenta duas estações distintas: a estação seca, que ocorre de junho a outubro, e a estação chuvosa, de novembro a maio, que ali chama de inverno. Durante a estação seca, o clima é mais ameno e as chuvas são raras, enquanto a estação chuvosa traz um aumento significativo nas precipitações, o que aumenta o nível do rio.
Durante a seca, pelo que meu guia me falou, a quantidade de animais terrestres à vista, como macacos e preguiças, é menor, já que eles têm mais acesso à terra firme. Ao contrário, na cheia do rio, botos, tartarugas e outros animais frequentam mais a área.
O que levar pra fazer o tour na Amazônia
É importante estar preparada pra o clima e pras condições da maior floresta tropical do mundo todinho.
- Roupas leves, que sequem rápido
- Protetor solar
- Kit de primeiros socorros pessoal
- Tênis ou bota pra caminhar na selva
- Chinelo
- Boné ou chapéu
- Óculos de sol
- Lanterna
- Repelente extra forte
- Câmera fotográfica
- Dinheiro em espécie pra usar em Lagunas
A Wonder Amazon oferece capa de chuva, binóculos, água e papel higiênico, então, não se preocupe com isso.
Quanto custa o tour pela reserva
Os preços para os passeios na Reserva Nacional Pacaya Samiria variam conforme a duração e os serviços inclusos. Aqui estão algumas opções com a Wonder Amazon (vou manter em sol peruano, porque depende do valor da cotação do dia):
- 3 dias 2 noites: S/800
- 4 dias 3 noites: S/1000
- 5 dias 4 noites: S/1200
- 6 dias 5 noites: S/1400
- 7 dias 6 noites: S/1600
- 8 dias 7 noites: S/1800
Está incluído nestes valores:
- Entrada na Reserva Pacaya Samiria
- Transportes (Lagunas – Reserva e Canoa dentro da reservA)
- Guia local
- Alojamento no albergue da agência
- Hospedagens durante o tour
- Refeições (desjejum, almoço e jantar)
- Água
Não gastei nada durante o tour, apenas levei dinheiro pra deixar de gorjeta pra os guias (50 soles pra cada um deles – eram dois)
Relato pessoal: vivenciando a Amazônia Peruana em canoa a remo
Mesmo estando pela quarta vez no Peru e viajando a América do Sul há 10 anos, não conhecia a Reserva Pacaya Samiria. Depois de passar pelos Andes e pelo Litoral peruano, estava viajando pela região amazônica em direção à tríplice fronteira com o Brasil e com a Colômbia. Quando cheguei em Yurimaguas, abri o mapa pra ver o que havia por ali, até que encontrei a Pacaya Samiria. Foi um golpe de muita sorte!
Assim, minha jornada começou partindo de Yurimaguas pra Lagunas, uma pequena cidade ribeirinha acessível somente de barco, o que por si só já revela o quanto essa região permanece isolada do restante do mundo.
Conversei pessoalmente com o dono da agência Wonder Amazon, o Jorge, que me contou sobre como nasceu esse projeto e sobre como o turismo comunitário e vivencial da reserva teve impacto na diminuição do desmatamento, já que antes de se tornarem guias, as pessoas locais vendiam madeiras como meio de subsistência.
Também conheci o guia que me levaria pra essa jornada, o Rudber, que já foi do exército peruano e que trabalha como guia da Pacaya Samiria há 25 anos. Este homem pode não saber muito bem onde fica o Brasil e a França (que ela achou que faziam fronteira), mas conhece a selva como a palma da mão.
6 dias no coração da selva
A navegação acontece em canoas a remo. Não apenas pela forma silenciosa e respeitosa de atravessar o rio, mas também pra aumentar as chances de conexão com o ambiente sem interferir nele.
Pra comer peixe fresco no almoço, tivemos que pescar! Essa foi uma das experiências mais imersivas que vivi! O primeiro almoço foi numa praia que encontramos no caminho, com lenha que os guias (Rudber e seu filho Miguel) conseguiram na hora!
Além dos guias, havia um espanhol compartilhando a canoa comigo, então a experiência é muito pessoal, nada de turismo massivo.
No ritmo das remadas e na calma da travessia, comecei a perceber o quanto a floresta tinha vida própria. Pra realmente enxergar a Amazônia, é necessário desacelerar. Não existe silêncio na selva, sempre há vida se revelando ao nosso redor.
Passei 5 noites na reserva, sendo que 4 foram dormindo em refugios e uma noite foi fazendo acampamento selvagem! Uma aventura inesquecível!
Vi tartarugas descansando nas margens do rio e botos nadando. Ariranhas aos montes, inclusive se alimento ali, do nosso lado – esse foi um dos momentos mais marcantes da viagem.
Dormir na selva foi uma experiência inesquecível. Ao longo da noite, os sons se intensificavam – os cantos dos insetos e outros animais noturnos eram uma sinfonia que me lembrava aonde eu tava.
Um dos momentos mais interessantes foi a expedição noturna pra observar crocodilos, guiada pela luz de uma lanterna e pela habilidade do Miguel em reconhecer os olhos brilhantes que surgiam na superfície escura da água.
Nossas caminhadas pela floresta também foram incríveis. Com certeza foi a parte que mais gostei, porque vimos árvores centenárias. Eram verdadeiras gigantes da natureza que permanecem de pé, guardando segredos de séculos, de quando o conceito de Peru nem existia.
Nos refúgios, encontrei outros viajantes e guias locais. A troca com essas pessoas foi uma das partes mais especiais da experiência. Conheci gente de várias partes do mundo, cada uma com sua própria busca e seu próprio olhar sobre a floresta. Isso só enriqueceu a experiência. As noites eram preenchidas por conversas e o som da floresta.
Essa jornada me marcou profundamente. A Amazônia tem a capacidade de transformar, de nos mostrar o quanto somos pequenos, mas ao mesmo tempo profundamente conectados ao ambiente. Foram seis dias que, de alguma forma, duraram como uma vida inteira.
0 Deixe teu comentário