Como foi trabalhar durante o mochilão
Quando eu decidi sair de casa para conhecer o continente sul-americano eu estava pensando em realmente viajar. Não queria ficar parada meses em cidades enquanto trabalhava de graça para um hostel. Queria sim trabalhar conseguindo dinheiro para ir mais longe.
Não consegui trabalhar por muito tempo e nem em todas as cidades onde procurei, mas trabalhei um pouquinho e essas experiências foram extremamente enriquecedoras e importantes para a história da minha viagem.
Quando estava em Lima vi que meu dinheiro estava pouco e que a grana que tinha daria para pagar os voos de volta para São Paulo. Mas fazia só 1 mês e meio que eu estava viajando e não queria voltar de jeito nenhum.
Partimos para Máncora depois que minha mãe me encorajou. Nós vendemos o carro de forma parcelada e só precisávamos segurar a bomba até que a grana entrasse. Então teríamos que nos esforçar mais que nunca.
Até tinha procurado trampo em Salta e em Copacabana, mas não com tanta vontade. Já em Máncora o negócio tava sério e tive que correr atrás.
Para valer a pena o valor do trabalho teria que, no mínimo, pagar o dia dos dois. Nossa sorte foi que conseguimos trabalho para os dois no mesmo lugar! Uma das alas da Pousada Sol y Mar havia pegado fogo umas semanas antes e estava em reforma. O Rodrigo, meu marido, trabalhou ajudando na reforma, enquanto eu limpava os quartos.
Trabalhamos só alguns dias, porque era bem puxado. Oito horas seguidas, sem descanso – nem para comer. Passei mal algumas vezes por causa disso. Ganhávamos 30 soles por dia cada um.
E não era só com a gente, não. Uma peruana que trabalhava ali há um ano disse que tudo funciona da mesma forma com os funcionários fixos. Eles não tem folga e, quando precisam de um dia de descanso, precisam avisar com uns dias de antecedência. Por isso sempre tem vaga naquela pousada! Pude perceber que no Brasil eu não poderia reclamar muito do meu trabalho.
A grana que levantamos em Máncora deu para pagar o passeio até El Ñuro, onde “mergulhamos” com tartarugas gigantes, e o ônibus para o Equador. Além de termos tido tempo para respirar e esperar a grana entrar na conta.
Ah, em Máncora vendemos geladinho na praia. Nosso argumento era: helado brasileño, llama sacolé en Rio de Janeiro (sorvete brasileiro, se chama sacolé no Rio de Janeiro). A maioria ficava curiosa e comprava, mas as praias no Peru não são como no Brasil e as pessoas não consomem tanto. Vendemos por 2 soles cada geladinho!
Voltei a buscar trabalho no Equador e na Colômbia, mas eu tava viajando na baixa temporada e tava bem difícil conseguir. Ficamos vários dias no caribe colombiano, mas as praias eram vazias. Não tinha ninguém para comprar meu geladinho.
Depois de umas semanas voltei a trabalhar. Dessa vez estava no Brasil
Consegui um trabalho como garçonete em um restaurante importante em Alter do Chão. Trabalhava das 17h até a 00h e ganhava R$40 + os 10%. Em dias fracos tirava R$50 e dias movimentados, R$80.
Durante o dia o Rodrigo vendia geladinho de caipirinha por R$3 e ganhava em uma hora mais que eu nos dias fracos.
Vários clientes me elogiavam por causa da minha simpatia e alguns percebiam, pelo sotaque (que eu jurava que paulista não tinha) que eu não era de lá. Interessados, perguntavam o que eu estava fazendo em Alter e eu explicava que estava no meio de um mochilão pela América do Sul. Certa vez um cliente me deu uma caixinha de R$50 para ajudar na minha viagem, segundo ele mesmo disse.
Nas praias as pessoas admiravam nossos geladinhos. Achavam diferente, elogiavam a ideia, os sabores… Os vendedores ambulantes é que não gostaram muito, mas depois que conversamos com eles e explicamos que nosso produto era diferente dos deles e para outro público as coisas melhoraram. E quando um pai perguntava se tinha para criança o Rodrigo chamava a moça do chopão (geladinho, sacolé), numa parceria saudável.
Brasileiro consome demais na praia!
Enquanto isso eu continuava no Mãe Natureza, o restaurante onde trabalhei. Lá eu vi como se consome cerveja. Começávamos a noite com a geladeira cheia e no final eu tinha que dizer que a “Original acabou” ou “A Tijuca que tem não está tão gelada”.
Depois eu tinha que participar do fechamento do lugar, levando lixos pesados para a lixeira, empilhando mesas e cadeiras. Mal conseguia colocar meus pés no chão, de tão cansada. Nos dias de muito movimento, quando eu ganhava bem mais, eu trabalhava bem mais também e voltava para casa chorando de dor nas costas.
Outra coisa que fizemos para ganhar dinheiro na viagem foi cuidar de uma criança. Em Alter do Chão “morávamos” numa casa com mais 2 casais. Um dos caras, um rasta venezuelano, era barman no Espaço (a balada de lá) e pai da Pacha, uma hippizinha de 3 anos. Ele ficava com ela uma semana sim, outra não. Como trabalhava à noite aos finais de semana, pagou algumas vezes para ficarmos com a Pacha. Eu sou titia coruja e amei ficar com ela, ainda mais ganhando para isso ♥ Difícil foi dizer adeus quando meu tempo em Alter acabou 🙁 choro até hoje por causa disso!
Mas a grana que levantamos em Alter foi o suficiente para nos sustentar durante o mais de um mês que passamos ali, em um lugar maravilhoso, onde fizemos amigos e vivemos boas histórias.
♥ ♥ ♥
Trabalhar durante uma viagem te aproxima mais do local. O dia a dia, as histórias de pessoas reais… É uma experiência muito interessante.
Não curto esse lance de trabalhar apenas em troca de hospedagem e alimentação, porque acho que a grana ajuda muito mais quem quer continuar a trip. Só toparia trampar sem receber dinheiro se fosse em um lugar onde eu já tinha intenção de ficar um tempo descansando ou curtindo a cultura local.
Ao todo, o Rodrigo e eu trabalhando, ganhamos R$1.015, tirando os investimentos, foram R$872 🙂
1 Deixe teu comentário
To adorando seu site! Obrigada por falar das suas experiencias!